A controladoria jurídica não é apenas uma área de suporte: trata-se de um setor extremamente essencial dentro do escritório
A advocacia vive um momento de profunda transformação. A evolução tecnológica, a cobrança por resultados mais eficientes e a crescente complexidade dos processos exigem dos escritórios de advocacia mais do que conhecimento jurídico: demandam gestão, estratégia e inovação. Nesse cenário, a controladoria jurídica se destaca como um pilar fundamental para garantir eficiência operacional, qualidade técnica e competitividade. Aliada à automatização, à robotização e à jurimetria, essa área vem assumindo um papel estratégico dentro dos escritórios modernos.
Podemos sintetizar que a controladoria jurídica é compreendida como o setor responsável pela gestão operacional do escritório, atuando como elo entre a atividade jurídica e a administrativa. Seu foco principal não é a produção jurídica em si, mas sim a organização, padronização e controle de processos, promovendo o bom funcionamento das rotinas internas.
Entre suas atribuições estão o controle de prazos, a alimentação de sistemas processuais, a padronização de peças, a conferência de documentos, o suporte aos advogados e a gestão de indicadores. Ao cuidar dessas tarefas, a controladoria permite que os advogados da área técnica foquem no conteúdo jurídico e na estratégia processual, aumentando a produtividade e reduzindo erros operacionais.
Para os gestores, a implementação de uma controladoria bem estruturada significa profissionalizar a operação do escritório, garantindo consistência, previsibilidade e escalabilidade.
A controladoria jurídica pode variar de tamanho conforme a estrutura e o porte do escritório, mas sua base organizacional costuma ser composta pela operação e supervisão estratégica.
O supervisor estratégico é o profissional responsável por liderar o setor. Atua diretamente no planejamento, coordenação e monitoramento das rotinas internas, bem como na definição de indicadores de desempenho e no relacionamento com outras áreas do escritório, deve ter uma visão ampla de processos, domínio de tecnologia jurídica.
Por sua vez, a parte da operação, o controller jurídico, analistas e assistentes de controladoria são os profissionais que precisam ter perfil analítico, criterioso e devem executar as rotinas práticas de cada função. Entre atividades estão o cadastramento de processos, atualização de sistemas, lançamento e controle de prazos, conferência de documentos, padronização de peças, confecção de guias, protocolo das petições, contratação e controle para audiências, alimentação de relatórios e apoio administrativo aos advogados.
A integração em conjunto com setores como jurídico, financeiro e TI é fundamental, e essa conexão garante fluidez e eficiência na operação, além de favorecer a tomada de decisões estratégicas.
O sucesso desse setor depende diretamente da liderança da gestão, que deve promover a cultura da eficiência, implementar tecnologias, treinar a equipe e garantir a aderência aos padrões de qualidade definidos pela gestão do escritório.
O uso de ferramentas tecnológicas também é um fator decisivo para o êxito da controladoria jurídica, softwares especializados permitem a automatização de tarefas repetitivas, como a geração de documentos com base em modelos, o envio de alertas automáticos sobre prazos, a distribuição de demandas entre os membros da equipe e a integração com tribunais eletrônicos.
Além disso, a robotização de processos jurídicos — por meio de sistemas que executam tarefas programadas com mínima intervenção humana — vem ganhando espaço. Robôs processuais já são capazes de acompanhar andamentos, cadastrar informações em sistemas internos e até iniciar a confecção de peças simples.
Essas tecnologias reduzem significativamente a possibilidade de falhas humanas e liberam a equipe para funções de maior valor agregado, ao mesmo tempo em que promovem agilidade, padronização e controle.
Outra ferramenta estratégica é a jurimetria, que consiste na aplicação de métodos estatísticos e análise de dados no contexto jurídico. Com ela, é possível identificar padrões de decisões judiciais, tempos médios de tramitação, comportamento de juízes, entre outras informações que auxiliam na tomada de decisões baseadas em dados.
Para o escritório, a jurimetria oferece uma nova perspectiva sobre o seu desempenho, pois é possível avaliar a taxa de êxito por tipo de ação, por cliente ou por tribunal, além de antecipar riscos e traçar estratégias processuais mais assertivas. Isso transforma a atuação jurídica em uma atividade mais analítica, mensurável e previsível — um diferencial competitivo considerável no mercado.
Concluímos que a controladoria jurídica não é apenas uma área de suporte: trata-se de um setor extremamente essencial dentro do escritório, contribuindo para a eficiência e redução de retrabalho, padronização e melhoria na qualidade das entregas, controle rigoroso de prazos, maior segurança jurídica e entregas mais organizadas.
Além disso, a controladoria oferece dados valiosos para que os gestores possam tomar decisões estratégicas com base em indicadores reais, promovendo a melhora da performance nos resultados dentro do escritório, capaz de impulsionar o desempenho, aumentar a satisfação dos clientes e garantir um posicionamento sólido em um mercado que está em constante evolução.
Thaynara Andretta é advogada no Rücker Curi Advocacia e Consultoria Jurídica.